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Consumo: Capitais x Interior

Continuo interessa nas reflexões sobre diferenças culturais, especificidades regionais e conseqüências no consumo. Quando pensamos em comportamento de consumo nas grandes cidades, e comparamos esse comportamento com o comportamento das cidades pequenas, sobretudo das microcidades com menos de 10 mil habitantes do interior desse Brasil, detectamos um material enorme de trabalho para quem se interessa sobre o tema da antropologia do consumo.

O Brasil é uma malha de trabalho infinda, e não me canso de me apaixonar por essa diversidade, essa miscigenação, essa criatividade e essa gente abençoada de coração. Observar comportamento faz parte da minha paixão profissional e exerço o tempo inteiro, até mesmo quando não quero. Confesso para vocês que existem horas que gostaria que minha cabeça parasse de observar e analisar coisas, mas esse motor de interesse às vezes é maior que minha própria vontade.

Quando pensamos no comportamento cultural e de consumo das cidades pequenas, de novo observamos diferenças gritantes entre o que chamamos cidades pequenas no interior de São Paulo e Paraná – que inclusive têm muitas semelhanças comportamentais – ou quando, por exemplo, falamos das cidades pequenas do interior de Minas, e inclusive com características mais fortes ou menos fortes, dependendo da aproximação de vizinhança que o estado de Minas faz com outros estados. É muito diferente interior de Minas divisa com Bahia do que interior de Minas divisa com o estado do Rio. Entretanto, vamos encontrar características muito comuns no interior de Minas que faz divisa com o estado do Rio, e deste, no Norte, quando faz divisa com o Espírito Santo, das cidades que são próximas a Campos. Isto mantendo-se, logicamente, no interior, pois quando vamos para região de praias, já tem muita diferença.

Esse espírito mineiro, mais quieto, calado, desconfiado, observador, cordial, digno, baseado em valores regionais, religiosos, familiares, que é peculiarmente fofoqueiro – no bom sentido! -, ou seja, o que acontece no começo de uma cidade, que às vezes só possui uma rua, o outro lado já sabe. Essas características são traços culturais óbvios destas regiões.

Entretanto, mesmo nessas cidades de semelhanças culturais, existem diferenças que estão ligadas a prováveis fatos históricos, de colonização, de descendência, que são interessantes e curiosos de se observar. Por exemplo, todos os distritos em volta de Nova Friburgo têm descendência suíça e alemã. No entanto são completamente diferentes dos municípios no interior do Rio Grande Sul, que tem uma colonização, sobretudo, alemã. Podemos começar já levando em consideração que foram colonizações realizadas em épocas diferentes. A colonização suíça-alemã do estado do Rio foi muito anterior à colonização do RS. Ou seja, a miscigenação aconteceu de forma mais abrangente, e os traços culturais dos descendentes já não se mostram tão presentes. Nessa região podemos perceber, provavelmente por causa do isolamentos das estradas, o distrito de Lumiar e seus arredores, manteve bastante original o fenótipo dos descendentes suíço-alemães. Lá podemos perceber que a maioria é loira, com o nariz afunilado, homens bastante magros, olhos claros, e percebemos muito a influência dos traços da cultura dos “novos cristãos”. Assim percebemos traços de enraizamento tradicional, que se reflete, por exemplo, em uma votação sempre de direita que separa claramente nós e eles, sendo eles os estrangeiros – os que não são do local e tem sítio, ou estão de visita – e que cria, por exemplo, movimentos das famílias que se assemelham ao TFP (Tradição, Família e Propriedade) até no nome, sendo o movimento da região chamado de Famílias da Terra, e podemos identificar estas famílias quando entramos nessa região e percebemos as placas marcando o pertencimento ao grupo em seus sítios. Deixemos claro que esse não é um grupo a priori religioso, e sim um grupo que reuniu-se para reivindicar seus direitos junto às autoridades públicas com relação a APA de Macaé de Cima que foi criada para proteger a região, mas por algum absurdo público – como vários desses que vemos no Brasil – , não foi levado em consideração as peculiaridades do povo local em relação a moradia, tipo de economia, e a regulamentação ambiental de Macaé de Cima é bem complicada para os sitiantes que viviam de plantação na região, e muito menos lhes foi explicado que a aptidão do local é turística e nem foi evidenciado como poderiam trabalhar e viver preservando a natureza e tendo provento para manter suas vidas desta forma.

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